
Após encontro com Hugo Motta, deputado admite que projeto não terá apoio para passar de forma ampla e defende texto moderado sobre a anistia dos atos antidemocráticos
Na manhã desta quinta-feira (18), o deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), escolhido relator do projeto da anistia, deixou claro que uma anistia irrestrita está fora de cogitação na Câmara dos Deputados. A declaração ocorreu após uma reunião com o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), e acende um novo capítulo no debate político que movimenta Brasília.
“Anistia ampla, geral e irrestrita é impossível. Acho que nós vamos ter que fazer algo que não agrade nem a direita e nem a esquerda, mas que agrade a maioria da Câmara”, afirmou Paulinho, reforçando a necessidade de um texto de consenso político.
A fala ecoa em meio à pressão das bancadas e ao clima de polarização que envolve o projeto de lei da anistia. Na noite anterior, os deputados já haviam aprovado, por 311 votos a favor, 163 contrários e sete abstenções, o regime de urgência para a matéria — movimento que acelera a tramitação e sinaliza o tamanho da disputa que vem pela frente.
Uma “anistia moderada” no horizonte
Paulinho da Força destacou que, na prática, o debate já não se trata de “anistia” no sentido amplo da palavra, mas de uma proposta mais enxuta e negociada. Segundo ele, o objetivo é pacificar o país sem abrir mão de um equilíbrio político.
“Não estamos mais falando de anistia. Vou procurar alguns governadores neste final de semana e, a partir de segunda, começar reuniões com as bancadas para que a gente vote o mais rápido possível”, adiantou o relator.
Esse movimento sinaliza a tentativa de evitar que a proposta seja interpretada como um perdão irrestrito a todos os envolvidos nos atos antidemocráticos, tema que ainda desperta fortes reações tanto no campo da esquerda quanto da direita.
O desafio de construir maioria
A missão de Paulinho da Força não será simples. Encontrar um “meio-termo” que desarme tensões políticas e, ao mesmo tempo, garanta apoio suficiente para aprovação, exige costura fina com governadores, líderes partidários e até mesmo setores do Judiciário.
Nos bastidores, parlamentares reconhecem que qualquer redação que avance deve excluir pontos mais polêmicos — como a discussão imediata sobre a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro, que ficará para outro momento, segundo já afirmou o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ).
O que está em jogo
O debate sobre a anistia dos atos de 8 de janeiro toca em feridas recentes da democracia brasileira. De um lado, há quem defenda o perdão como forma de reconciliação nacional; de outro, setores políticos e sociais temem que uma medida ampla passe a mensagem de impunidade.
O caminho proposto por Paulinho da Força busca justamente se afastar dos extremos. A ideia de uma anistia restrita e negociada tenta equilibrar o desejo de estabilidade política com a necessidade de preservar a credibilidade das instituições.
Expectativas para a próxima semana
Com a urgência já aprovada, a previsão é que o texto comece a ser discutido de forma intensa nos próximos dias. Paulinho pretende iniciar conversas formais com as bancadas na segunda-feira (22), na expectativa de construir rapidamente uma redação viável para ser votada já na semana seguinte.
Enquanto isso, a sociedade acompanha de perto. Afinal, a forma como a Câmara vai lidar com o projeto da anistia pode definir não apenas o futuro político de figuras centrais do cenário nacional, mas também o tom da convivência democrática no Brasil nos próximos anos.
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