
Sobretaxa americana pode eliminar margens de lucro de famílias cafeeiras centenárias; setor estima perdas de R$ 2,5 bilhões já no primeiro ano
Aos 62 anos, seu João Batista colhe café nas mesmas terras onde seu bisavô plantou os primeiros pés em Minas Gerais há 130 anos. Mas a tradição que sobreviveu a crises econômicas, geadas históricas e até à pandemia agora enfrenta seu desafio mais mortal: uma tarifa de 50% imposta pelos EUA sobre o café brasileiro – golpe que ameaça exterminar a competitividade internacional de pequenos produtores como ele.
O IMPACTO IMEDIATO NAS LAVOURAS
A medida, anunciada na última quinta-feira pela administração Trump, atinge em cheio o seguro de sobrevivência de 250 mil famílias cafeeiras:
- Preço do saca pode cair até 30% no mercado interno
- 40% dos pequenos produtores operam no limite da rentabilidade
- Safra 2025/26 já registra cancelamento de contratos
“Venderemos abaixo do custo”, desabafa Maria das Graças, produtora em Espírito Santo que exporta 80% de sua produção para os EUA. Seu cálculo é cruel: com a tarifa, cada saca de 60kg que custava US$ 240 passará a US$ 360 – preço que tornará inviáveis compradores como Starbucks e Peet’s Coffee.
O CENÁRIO QUE ASSUSTA O SETOR
Dados da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) revelam:
☕ 85% dos pequenos cafeicultores não têm reservas para sobreviver a 2 anos de crise
☕ 1 em cada 3 propriedades familiares depende exclusivamente do mercado americano
☕ R$ 5,8 bilhões em investimentos em qualidade podem ser perdidos
“Estamos falando de um extermínio em câmera lenta de cafés especiais que levamos décadas para desenvolver”, alerta Juliana Tarabal, diretora da BSCA.
PLANO DE EMERGÊNCIA EM ANDAMENTO
O governo federal corre para lançar medidas de salvamento:
✅ Subsídios emergenciais via Programa Café Brasil
✅ Rotas alternativas: aceleração de acordos com China e União Europeia
✅ Conversão de dívidas para produtores endividados
Mas o tempo é inimigo: a próxima colheita começa em 3 meses, período crítico que exige investimento em insumos e mão-de-obra. “Sem liquidez agora, não haverá café para colher depois”, resume o economista agrílogo Carlos Mello.
HISTÓRIAS QUE PODEM DESAPARECER
Fazendas como a Daterra – referência mundial em sustentabilidade – representam o paradoxo da crise:
🌱 Primeira fazenda carbono negativo do mundo
🌱 Premiada pela Starbucks como melhor café sustentável
🌱 Ameaçada pela tarifa que não distingue qualidade
“Exportamos cultura, não commodities“, defende Isabela Pascoal, da 4ª geração da família Daterra. Seu temor? Que pequenos produtores abandonem técnicas sustentáveis para produção em massa como única forma de sobrevivência.
O QUE ESPERAR?
Especialistas projetam 3 cenários:
1️⃣ Otimista: acordo bilateral em 6 meses (20% de chance)
2️⃣ Realista: migração dolorosa para novos mercados (2-3 anos de ajuste)
3️⃣ Catastrófico: falência em cadeia de 30% das pequenas propriedades
Enquanto diplomatas negociam, seu João Batista faz as contas na cozinha de fazenda: “Meus netos querem ficar na terra, mas como justificar plantar café que ninguém compra?” A resposta pode definir não só o futuro de sua família, mas de um patrimônio agrícola brasileiro.
PARA ENTENDER A CRISE:
• Como funcionam as tarifas de importação americanas
• O mapa dos pequenos produtores mais ameaçados
• Guia: Como identificar cafés de pequenos produtores para apoiar
Deixe um comentário