
Especialistas alertam que envio automático de informações de usuários pode violar direitos constitucionais
O debate sobre privacidade e segurança de dados bancários voltou à tona com a nova obrigatoriedade de envio de informações de movimentações financeiras à Receita Federal. O advogado Carlos Eduardo Delmondi alerta que a prática de envio frequente e automático de dados, sem ordens judiciais individualizadas, pode violar direitos constitucionais à privacidade e expor consumidores a vazamentos ou uso indevido das informações.
Embora o objetivo da medida seja legítimo — combater a lavagem de dinheiro —, especialistas destacam que é essencial que apenas os dados estritamente necessários sejam compartilhados, evitando detalhamento individual que comprometa a segurança.
O que preocupa no envio de dados
Segundo Delmondi, a coleta automática de informações financeiras cria riscos significativos:
- Exposição de dados sensíveis: transações, valores e padrões de movimentação podem ser utilizados de forma indevida;
- Risco de vazamentos: quanto maior o volume de dados enviados, maior a possibilidade de incidentes;
- Violação de direitos constitucionais: a proteção à privacidade e ao sigilo bancário é garantida pela Constituição.
A preocupação não é sobre a finalidade da medida — que é combater crimes financeiros —, mas sobre como os dados são tratados e compartilhados entre instituições.
Garantindo segurança sem comprometer a fiscalização
Especialistas apontam que é possível equilibrar a fiscalização e a privacidade. Algumas práticas recomendadas incluem:
- Envio de dados agregados: informações consolidadas que mostram volumes e padrões sem identificar clientes individualmente;
- Criptografia e armazenamento seguro: garantir que os dados estejam protegidos contra acessos não autorizados;
- Regras claras de acesso: limitar a quem pode visualizar e utilizar as informações enviadas.
Essas medidas ajudam a reduzir riscos de vazamento e preservar o sigilo bancário, sem comprometer a atuação da Receita no combate a fraudes e lavagem de dinheiro.
mpacto para consumidores
Para a população em geral, os riscos podem ser mais silenciosos, mas não menos graves:
- Vazamentos podem levar à fraude financeira ou roubo de identidade;
- Informações detalhadas podem ser usadas para marketing abusivo ou discriminação;
- A confiança nos serviços digitais pode ser afetada, prejudicando a adesão a fintechs e bancos digitais.
Por isso, o debate sobre privacidade é central para garantir que a inovação no setor financeiro continue segura e confiável.
O que dizem especialistas
Delmondi e outros advogados enfatizam que a legislação brasileira prevê direitos de proteção de dados e sigilo bancário. Segundo eles, o envio automático deve ser proporcional à finalidade, evitando excesso de informações que não são essenciais para o monitoramento de operações suspeitas.
Além disso, associações do setor financeiro defendem transparência e regras claras, de modo que clientes saibam quais dados estão sendo compartilhados e como estão sendo protegidos.
Conclusão
O desafio do sistema financeiro atual é equilibrar eficiência na fiscalização com direitos constitucionais de privacidade. Garantir que dados sensíveis sejam compartilhados de forma segura, agregada e proporcional é essencial para proteger consumidores, manter a confiança no setor e combater crimes financeiros sem comprometer a inovação.
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